meus contos meus assombros

quando o inferno estiver cheio os mortos andaram pela terra

Textos

o caminhante noturno
Naquele dia Daniel estava muito animado, finalmente retornaria a fazenda de seu avô, talvez ele fosse o único entre todos os filhos da família, que tinham interesse em voltar, seus outros dois irmãos não demostraram grande empenho em rever a fazenda de seus avôs maternos, talvez por serem mais velhos já casados com suas próprias vidas, mais Daniel era jovem e solteiro tinham 19 anos para ele era nostálgico e curioso. A ultima vez que ele esteve naquele lugar o avô ainda estava vivo, ele tinham apenas 6 anos as lembranças eram vagas, mais ele lembrava do avô contando historias de fantasmas ao redor da fogueira (velhos hábitos a muito esquecidos) lembrava da cara de medo dos irmãos mais velhos, de todas as historias a única que ele lembrava era a história do caminhante noturno. Diz a lenda que pouco antes do anoitecer, um vulto é visto caminhado na estrada que passava não muito longe da fazenda do avô, sempre fazendo o mesmo percurso, muitos já tinham visto outros jamais viram a tal aparição, esta história sempre intrigou Daniel, ele ficava pensando quem seria o tal fantasma? Seria ele real? Muitos diziam que era apenas uma ilusão de óptica produto de um jogo de luz e sombra, no lusco fusco do anoitecer. No entanto o avô nunca entrava em detalhes sobre a aparição, apenas relatava que ele mesmo já tinha visto o espectro em seu caminhar silencioso pela estrada. Agora vale aqui ressaltar algumas peculiaridades que permitiam avistar o fantasma da fazenda.
A casa grande da fazenda ficava numa elevação, que se destacava em meio a ondulada e monótona paisagem da região, sendo a mais alta colina na área, dava par ter uma visão excepcional dos arredores até perder de vista. Pois bem, havia um estrada de barro que serpenteava em torno da colina, de modo que propiciava uma visão privilegiada da estrada que foi feita para carroças e cavalos mais nos dias atuais servia para o trafego de automóveis, porem apenas alguns trechos eram visíveis da janela lateral da casa grande da fazenda, havia bosques de arvores que bloqueavam a visão era nesse recantos livres de arvores que as vezes as pessoas avistavam o caminhante noturno, como ele era chamado, era apenas uma sombra que se movia lentamente, não era uma pessoa comum, porque as pessoas tinham traços perceptíveis apesar da distancia e pouca iluminação, era algo fluído indefinido, mais se notava o movimento nas pernas, na verdade poucos tinham visto a aparição, muitos ficavam de tocaia esperando ver e não vinham nada, o povo dizia que ele só aparecia para quem não estava esperando ver ele, mais muitos diziam que era apenas supertição.
Mais Daniel sempre se intrigou com a historia, num tempo onde ainda não existia a internet (essa historia se passa nos anos 70) ou outras fontes de pesquisa essa e era uma lenda da região que era contada de geração a geração ao redor das fogueiras (habito quase desaparecido) sendo assim ele, queria descobrir o mistério nem que fosse só para passar o tempo, pois viver no campo era um tanto monótono, nem havia TV na região a não ser Radio. Os pais de Daniel pretendiam vender a fazenda que se encontrava em péssimo estado, desde a morte do avô de Daniel, mais antes resolveram passar um temporada de férias ali para reviver os velhos tempos em que eram jovens, muito embora cada recanto da casa grande lembrava o avô de Daniel que era pai da mãe dele.
Assim que chegou na fazenda Daniel procurou um dos moradores mais velhos da fazenda, um antigo criado da família, ele queria saber detalhes da lenda qual era a origem da história? quem era o caminhante noturno?.
Ele procurou um velhinho muito simpático, foi a casinha onde ele vivia sozinho no mato, - seu Manuel – sim patrãozinho – diz com um sorriso no velho rosto – eu queria saber sobre a história do caminhante noturno o senhor já viu ele? – eu mesmo nunca vi, mais meu pai dizia que tinha visto e muita gente jura que viu - o ancião deu uma baforada no seu cachimbo de barro , e disse – bem o povo daqui diz que a muito tempo na época dos escravos vivia um senhor muito rico, e muito perverso, ele batia nos pobres negros, e fazia muitas malvadezas com eles, acontece que que na fazenda existia um preto veio que tinham fama de curandeiro e de praticar a feitiçaria, todos o conheciam, por tio João, pois bem esse tal preto veio, tinham uma filha que se chamava Maria Das Dores, era uma pretinha bem jeitosa, hora o senhor se enamorou dela, a esposa do senhor, soube do caso do marido com a negrinha, e ficou furiosa, mais ela nada podia fazer porque o marido gostava da pretinha, pois bem um dia a pretinha ficou gravida do senhor da fazenda, a esposa ficou furiosa e ameaçou fazer um escândalo, não admitia que o marido fosse pai de um negrinho bastardo, o senhor dos escravos que e essa altura já andava de caso com outra pretinha, não teve piedade, resolveu o problema da maneira que sabia , chamou dois capangas e deu ordens para dar cabo da coitada da negrinho dito e feito uma noite os capangas foram ate a senzala levaram a pobrezinha para o mato e a mataram ela junto com a criança que ela tinham na barriga. Pronto estava resolvido o problema pensava o perverso senhor, pois bem o pai da negrinho o tio João, soube que sua filha tinham sido morta a mando do patrão, ele chorou amargamente sua perda, mais ele jurou vingança, sendo conhecedor de artes magicas, rogou uma praga contra o senhor da fazendo, o senhor ficou sabendo que ele o havia amaldiçoado, então mandou prender o velho negro , ele foi chicoteado até a morte. Só que depois da morte do tio João tudo mudou para pior na vida do senhor da fazenda, uma praga de insetos devastou os canaviais, ele teve enorme prejuízo, passou a dever muito dinheiro, teve que vender parte de suas terras, para pagar as dívidas, sem recursos dispensou parte de seus trabalhadores livres, seus capangas, vendeu muitos escravos, para piorar a esposa dele ficou gravida, mais morreu no parto, e a filha adorada dele, uma bela mocinha adoeceu de uma doença misteriosa e por fim morreu, ele se entregou ao jogo e a bebida, todas essas desgraças aconteceram num curto espaço de tempo, as aflições que ele passava tiveram um feito terrível, ele se tornou ainda pior com seus escravos, ele achava que só podia ser um feitiço dos escravos contra ele, sendo assim ele surrou até a morte muitos negros suspeitos de praticar magia negra, até que um dia não suportando os castigos e o fato da fazenda estar praticamente desguarnecida pois a maioria dos capangas tinham ido embora, por falta de pagamento os escravos se revoltaram mataram os poucos guardas brancos que sobraram, e atacaram a casa grande onde o senhor se entrincheirou armado, por fim o casarão foi invadido, e o senhor foi morto a golpes de facão, depois sua cabeça foi cortada e colocada no tronco onde ele surrava até a morte os negros o casarão foi incendiado e os escravos fugiram todos. Mais mesmo após a morte sua alma atormentada permanece condenada a vagar pela estrada sempre fazendo o mesmo caminho até sumir e voltar para as profundezas do inferno.
O tempo passou e o antes imponente casarão virou um monte de ruinas tomadas pelo mato, - esse casarão ainda existe?- indagou Daniel – sim claro que existe mais é um lugar amaldiçoado eu aconselho a não ir lá – me mostra o caminho eu não tenho medo – todo bem patrãozinho eu mostro mais eu não entro naquele lugar – tá certo seu Manuel pode deixar só quero que me mostre o lugar depois o senhor pode ir embora – esta bem amanhã de manhã, venha aqui que eu te levo lá – Daniel não tinham medo ele sentia uma forte emoção visitar o local que deu origem a lenda do caminhante noturno.
Na manhã seguinte Daniel e o senhor Manuel foram até as ruínas abandonadas onde viveu o antigo senhor de escravos, havia apenas algumas paredes de pê, o mato tomava conta de tudo no lugar onde ficava a sala principal agora havia uma enorme arvore, pedras soltas por toda parte, apenas Daniel se aventurou no lugar o seu Manuel logo foi embora, ele tinham medo daquele sítio de tanto sofrimento.
Num canto sujo de uma das paredes ele viu algo que imaginou que podia ser uma antiga mancha de saguem, ele pensou na morte do senhor daquele lugar, teria sido naquele canto onde ele foi assassinado? Ninguém poderia saber já havia se passado mais de 150 anos desde aquela época. Ele caminhou pelos arredores na tentativa de quem sabe encontrar a senzala onde os negros viviam, mais nada achou, nenhum sinal da antiga (sendo quase sempre feitas de madeira elas não deixavam muitos vestígios) construção. Tirando a mancha ele nada viu digno de nota, mais ao sair da antiga ruína, ele sentiu uma sensação estranha como se alguém o estivesse observando, foi ai que ele ouviu nitidamente os ribombar de tambores, ele lembrou que os negros tocavam tambores em seus folguedos noturnos, ele se virou e olhou ao redor mais nada viu, o som durou poucos segundos, após isso ele voltou a estrada de barro onde o caminhante noturno costumava andar cumprindo sua sina. Talvez fosse apenas sua imaginação excitada por estar num lugar que tinham fama de ser assombrado, o fato e que ele ouviu aquele som sinistro.
Daniel saiu andando pela estrada, no caminho oposto ao dele vinham uma carroça, era estranho a anos que carroças não circulavam mais por aquele lugar apenas carros que muito raramente passavam por ali. Na realidade aquela região era considerada um lugar quase desabitado, depois que as grandes plantações de cana acabaram, aquele lugar sofreu um processo de esvaziamento, onde antes existia uma prospera e numerosa comunidade, agora restavam muitos poucos moradores a maioria foi embora em busca de melhores condições de vida, daí o fato da estrada ter muito pouco movimento, e carroças então a anos que ninguém passava ali nesses veículos por isso foi uma surpresa para Daniel( bem consciente da situação daquele sitio), ver a carroça se aproximar. Tinham apenas uma mula que a puxava e sobre ela um negro com chapéu de palha, e roupas rasgadas e encardidas e atrás um fardo de cana algo ainda mais inusitado. Quando a carroça passou por Daniel, o negro parecia ignora-lo totalmente estava com um olhar estático parecia alheio a tudo que acontecia ao redor, quando a carroça que fazia muito barulho, passou por Daniel, de repente num abrir e piscar de olhos desapareceu, Daniel levou um grande susto, o coche sumiu quase na frente dele, assustado ele correu pelo caminho, tinha visto um fantasma do passado? Mais depois parou de correr com vergonha de si mesmo – ora bolas não era isso que eu queria ver uma assombração acabo de ver, por que estou com tanto medo? – Pensou ele consegue mesmo, ao chegar em casa ele nada disse aos país tinham vergonha de admitir que tinham visto algo do outro mundo e que teve muito medo.
Daniel ficou ainda mais decidido de ver o tal andarilho misterioso, no dia seguinte à tardinha quase no crepúsculo, ele se posicionou como seus irmãos no passado fizeram tantas vezes, na janela lateral, só que dessa vez ele estava com um binoculo para enxergar melhor a aparição, ele se posicionou e esperou até anoitecer. Mais foi em vão a tal aparição não surgiu, dia a pós dia ele esperava , esperava mais nada via, o tempo foi passando uma semana , duas semanas, três semanas e nada da aparição surgir até que um dia quando Daniel já estava quase desistindo ele viu, soprava um vento forte, os galhos das arvores balançavam fazendo aqueles sons estranhos que lembram os filmes de terror, ele mirou o binoculo para a estrada, nos locais onde a visão estava desobstruída, ai para sua surpresa e alegria ele avistou o vulto, sim era ele, com sua silhueta indefinida, você não notava a cabeça ou os braços apenas aquela forma com duas pernas que eram na realidade pouco mais que manchas escuras, mais elas se moviam muito lentamente ele acompanhou com o binóculo apesar do aparelho, ele nada viu de diferente, era a mesma mancha escuro de forma indefinida, do andarilho fantasmagórico, que logo sumiu entre as arvores que ladeavam o caminho. Daniel contou a novidade para seus pais com entusiasmo típico da idade, mais eles ficaram céticos então o pai falou – filho deve ser apenas sua imaginação quando vai anoitecendo, as imagens se confundem em nossa mente, vai ver era uma pessoa qualquer caminhando mais devido as distorções monocromáticas, você teve a impressão que não era uma pessoa era algo sobrenatural - filho a nossa mente nos prega peças quando estamos muito focados em descobrir algo, - atalhou a mãe - não vocês não entendem, eu sei o que vi não era uma pessoa , era algo do além – tomando coragem ele contou o ocorrido no casarão abandonado, apenas omitiu a sua ridícula fuga, - filho tem certeza que viu isso mesmo? – sim pai era uma cabriole com um negro escravo depois sumiu – ok tudo bem filho se quer acreditar nisso mais saiba que vamos embora depois de amanhã está bem? – claro pai,- ele disse isso com um misto de aborrecimento e sensação de fracasso porque agora ele teria pouco tempo para conseguir provar que a aparição era real. Naquela tarde além do binoculo ele tinha uma câmera fotográfica, pretendia registrar a aparição para que todos soubessem que ele estava dizendo a verdade.
Com o binóculo na mão e uma câmera pendurada no pescoço, Daniel ficou mais uma vez esperando, foi ai que ele viu , entusiasmado ele pegou a câmera e tirou uma foto da aparição que se movia pela estrada em seu passo lento, sua imagem negra e difusa por fim desapareceu por trás das arvores que guarneciam a estrada, ele usava uma máquina de revelação rápida quando ele tirou a foto para ver o que tinham captado para seu espanto não havia nada na foto apenas uma paisagem monótona e escura nem sinal da aparição, isso deixou Daniel, desconcertado ele já ia anunciar triunfante para os pais que havia tirado uma do fantasma mais se conteve, Já que não conseguiu registrar a aparição.
Era o ultimo dia em que Daniel estaria na fazenda, determinado a esclarecer o mistério ele teve uma ideia ousada e se ele ficasse esperando a aparição na estrada para tentar ver de perto ou quem sabe fazer contato com a entidade, qualquer um diria que isso era loucura, mais Daniel estava tão determinado que resolveu arriscar talvez não desse em nada mais pelo menos ele tinham tentado. Ao entardecer daquele dia o jovem foi sozinho para estrada resolveu subir numa arvore, e ficou a espreita, então por volta das cinco e meia da tarde, o rapaz já estava nervoso e sentia uma ponta de arrependimento daquela aventura, quando ele viu algo vindo pela estrada, era aquela sombra sem forma nesse exato momento um carro vinham no sentido contrário, algo extraordinário ocorreu, o carro passou pela sombra aparentemente sem nada perceber , o carro passou através dele, e sumiu na estrada, ele viu para seu assombro quando a sombra passou pelo local em que ele estava ela ganhou forma, ele viu um homem alto, vestido com roupas do século XVIII, nos pês haviam correntes pesadas por isso ele andava tão devagar, seu rosto tinham uma expressão triste, tinha barba negra fechada seus olhos eram fundos sem vida, o nariz não existia eram apenas dois buracos, a boca estava coberta pela barba seu cabelo era comprido e desalinhado, atrás dele flutuando no ar um chicote que o chicoteava, Daniel ouviu um lamento profundo que saia do espectro, huuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu – e o som de tambores, cada pelo do corpo do rapaz estava eriçado, de medo, o coração só faltava sair pela boca, por sorte ele era jovem se não teria morrido de pavor, a aparição avançou pela estrada quando chegou a uma certa distancia desapareceu. Refeito do susto inicial o jovem desceu da arvore, quando ele pôs pê na estrada, ele sentiu uma vertigem, ficou tonto, nisso ele viu uma multidão de negros correndo pulando, gritando, ele olhou ao redor e viu que tudo estava diferente no lado direito da estrada uma gigantesca plantação de cana, no alto da colina onde podia se avistar a fazenda de seu avô não havia nada a não ser uma floresta, os negros ainda com correntes nos pês passaram por Daniel como se ele não existisse, desnorteado e confuso o jovem caminhou até a antiga casa do senhor, ao chegar lá viu o casarão em chamas, ele estava presenciando as lembranças do passado, e viu o tronco onde o senhor castigava seus escravos e no alto a cabeça ensanguentada do senhor dos escravos, ele podia sentir o calor que emanava do fogo que consumia o casaram, percebeu que era noite viu o céu estrelado.
Todos na casa estavam preocupados Daniel havia saindo ao entardecer e já era noite e ninguém o viu voltar, os pais saíram a procura do rapaz junto com outros empregados da casa, final o acharam estava desmaiado debaixo de um arvore, ao acorda-lo ele parecia confuso falava coisas desconexas, os pais o levaram para casa deram um tranquilizante ele dormiu o resto da noite. No outro dia ele acordou os pais haviam chamado um medico que o examinou e disse que ele parecia fisicamente bem mais mostrava traços de ter vivido uma experiência perturbadora, os pais do jovem indagaram – filho afinal oque houve com você? – eu não sei dizer bem, eu lembro que resolvi dar um passeio ao entardecer, ai quando cheguei na estrada não lembro o que houve, então acordei com vocês ao redor de mim - o único que suspeitava que havia acontecido com o rapaz era o velho Manuel – ele foi longe demais na sua busca pelo caminhante noturno teve sorte de não ter enlouquecido – pensou o velho na sua cabana solitária . Naquele mesmo dia a família foi embora eles venderam a fazenda e nunca mais voltaram aquele lugar e ninguém mais relatou a aparição do caminhante noturno.
ideraldoluis
Enviado por ideraldoluis em 23/09/2021
Alterado em 23/09/2021


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